Famílias do Semiárido acessam água para produção e ampliam a expectativa de permanência no campo

Texto e fotos Ediane Bispo – Comunicação MOC e COFASPI

A organização popular nos movimentos sociais e a luta de agricultoras/es e povos tradicionais da comunidade rural de Maninho, município de Jacobina-BA, tem garantido a famílias agricultoras o acesso a políticas sociais que ampliam a permanência no campo e direitos essenciais à vida como a água, a terra e a alimentação saudável.

Por meio do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), as famílias conquistam tecnologias de convivência com o semiárido, como cisternas de produção ou barreiros trincheira familiar para armazenar a água da chuva. O programa é acompanhado pela equipe técnica do Movimento de Organização Comunitária (MOC), em parceria com a Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI). Nesta fase, o projeto criado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), está sendo financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Além das tecnologias para armazenar água da chuva, as famílias também participam de cursos de formação sobre o uso racional da água, produção de alimentos sem agrotóxicos, transição agroecológica, preservação da vegetação nativa e os cuidados com as tecnologias sociais. O programa ainda viabiliza a família o acesso a projetos de fomento ou de caráter produtivo para fazer investimentos na propriedade ou aquisição de equipamentos e materiais para ampliar uma das produções desenvolvidas, seja de hortaliças, criação de aves, entre outros. Isso fortalece a produção e autonomia das/os agricultoras/es.

O agricultor Adeilson Andrade, mais conhecido como Pinda, o filho Adenilson Andrade e a esposa Gilvone Alves, mais conhecida como Ivone, estão entre as famílias participantes. Na etapa inicial, a família recebeu a equipe técnica do programa para juntos fazerem um diagnóstico da unidade produtiva. Este diagnóstico é feito através de metodologias participativas, que envolve a troca de experiências e uma aproximação com as histórias de vida e trabalho das/os agricultoras/es.

No primeiro momento, foi feita uma conversa com Ivone e Pinda para saber mais sobre a família, e o que produzem. Ou seja, quais animais criam, quais políticas sociais acessaram nos últimos anos e como estas impactaram em suas vidas. Em seguida foi utilizado o método da travessia, em que os técnicos e a família passearam pela propriedade para ver de perto a produção. No quintal, logo se viu a plantação de mandioca, aipim, andu, palma, e algumas frutíferas como seriguela, amora, caju e pinha, além da criação de galinhas.

Em outra etapa do diagnóstico, foi feita uma linha do tempo, a qual registra a trajetória de vida da família. Pinda relata que desde adolescente já ajudava os pais no roçado. Depois de crescido, seus pais lhe cederam parte do terreno onde passou a plantar sozinho com intuito de gerar renda. Em 1994, ocorreu uma grande seca na região, obrigando-o a sair para trabalhar fora. Passada a longa estiagem, em 1997 ganhou do irmão um terreno onde passou a plantar milho, feijão, palma, mandioca, e frutíferas que ainda hoje resistem na propriedade. Já em 2003 iniciou o plantio de andu ao redor de todo o terreno. Em 2007 construiu sua moradia, e no ano seguinte, 2008, teve acesso a energia elétrica através do programa Luz para Todos. Com isso a vida foi melhorando. Em 2013 acessou ao Programa Bolsa Família, o que aumentou a renda familiar. O agricultor comenta que o ano de 2018 foi bastante produtivo. “Foi um ano de grande fartura, com boa colheita de milho, feijão e melancia”, lembra com entusiasmo. Também foi em 2018 que casou-se com Gilvone, e desde então ela passou a participar da produção familiar.

Numa terceira etapa do diagnóstico, sob orientação da equipe técnica, a família desenhou o mapa da propriedade. Através do ma

pa é possível visualizar os subsistemas da unidade produtiva e de forma estes estão relacionados e interdependentes.

Por exemplo, para alimentação das galinhas utiliza-se mandioca e outros alimentos cultivados no roçado. Já o esterco de galinha é aproveitado para adubar as frutíferas e futuramente servirá como adubo das hortaliças. Além disso, o mapa também permite observar como a produção contribui para a alimentação da família e a interação entre a comunidade e o mercado.

A partir destas metodologias participativas, é possível fazer o planejamento para unidade produtiva.

Com a aquisição da cisterna de produção e do fomento/produtivo, Pinda e Ivone pretendem iniciar a cultura de hortaliças, ampliar o plantio das frutíferas e a criação de galinhas. A expectativa é de melhorar a alimentação e ampliar a renda mensal da família.

É assim que a vida no Semiárido se transforma e o bem viver no campo torna-se realidade.

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