Famílias das comunidades Maninho e Estrada Nova, em Jacobina/BA, acessam o P1+2, programa que amplia acesso à água para produção

Texto: Luna Layse Almeida e Ediane Bispo

A conquista de direitos como o acesso à água, terra, alimentação saudável e tecnologias de Convivência com o Semiárido melhoram as condições de vida das famílias agricultoras. Uma realidade que pode ser observada, por exemplo, nas comunidades vizinhas Estrada Nova e Maninho, em Jacobina/BA.

É por meio da organização e lutas em movimentos sociais que muitas famílias conquistam e acessam políticas públicas. Foi assim que as realidades foram se transformando nas comunidades Estrada Nova e Maninho, contando também com incentivos de governos de esquerda a projetos e políticas para o Semiárido, aumentando a quantidade de famílias que acessam tecnologias sociais, produzem alimentos agroecológicos na propriedade, criam animais, beneficiam e vendem produtos, dentre outros direitos.

Em 2018, foram 20 famílias destas duas comunidades que passaram a fazer parte do Programa uma Terra e duas Águas (P1+2), que está sendo acompanhado pela equipe técnica do Movimento de Organização Comunitária (MOC), com apoio da Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI). Nesta etapa, o projeto criado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) está sendo financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“Eu vivo da roça. Planto feijão, milho, mandioca, mamona, também crio algumas vacas, galinhas. E aí com a cisterna eu comecei plantando milho, tomate, alface, coentro, bananeira”, conta o agricultor Almerindo Araújo que trabalha com a esposa Maria Araújo.

No P1+2, as famílias conquistam acesso à água para produção, por meio de tecnologias como cisternas ou barreiros trincheira familiar para armazenar a água da chuva. Também participam de cursos para dialogar sobre o uso racional da água, produção de alimentos sem agrotóxicos, transição agroecológica, preservação da vegetação nativa, cuidados que devem ter com as tecnologias sociais, além de escolher um investimento para ser feito na propriedade, adquirindo equipamentos e materiais para as produções desenvolvidas, fortalecendo a soberania alimentar e nutricional.

Para isso, nas etapas iniciais as famílias recebem a equipe técnica do programa com metodologias participativas que visam fazer um diagnóstico da unidade de produção e conhecer as histórias de vida da família. A partir daí é que são feitos os planejamentos.

Ameaças – Desde que assumiu a presidência, o governo conservador de Bolsonaro (PSL) já anuncia a retirada de direitos dos povos tradicionais e do campo. Por meio de decretos, promoveu o desmonte da Fundação Nacional do Índio (Funai), extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), extinguiu ministérios como o do Trabalho e da Cultura, dentre outras medidas que provocam retrocessos sociais com a retirada de conquistas das classes trabalhadoras e aumentando o poder dos ruralistas, com incentivos ao agronegócio, privatizações e exploração dos recursos naturais. Essas medidas têm trazido preocupação às famílias do campo, que seguem em resistência, lutando pela retomada dos direitos necessários para garantir vida digna dos povos.

 

Conheça algumas das famílias que estão participando do P1+2 nas comunidades Estrada Nova e Maninho:

  • Na propriedade onde vivem Rosa Souza e Manoel Santos – mais conhecido como Adonel – foi implementada a cisterna calçadão, que pode armazenar 52 mil litros de água. O casal deseja ampliar a produção agroecológica de alimentos principalmente para o consumo. No quintal, chama a atenção a diversidade de bananeiras e árvores já carregadas de frutas, como a seriguela, manga, acerola e o umbu. Também produzem mudas de flores e têm criação de aves. Relatam o gosto pela vida no campo e que os filhos optaram pelo trabalho e moradia na cidade. Seu Manoel agora busca o acesso à aposentadoria.

 

 

  • “Depois que a gente começou a molhar com a água da cisterna as plantas mudaram muito (…) crescem e ficam verdes rapidinho”, contou Reinaluce Santos. A agricultora e o esposo Naziozenio Santos já estão com a cisterna de enxurrada cheia após as chuvas recentes na região. Aproveitam a água da chuva para molhar a horta, fruteiras, plantas medicinais e flores. Reinaluce mostra aos visitantes a produção agroecológica no quintal e conta como o sabor doce das frutas agrada a todos que experimentam. O umbuzeiro e o pé de acerola estão carregados nesta época do ano.

 

  • Ao receber a equipe técnica do MOC, a agricultora Neusa Andrade estendia, no terreiro da casa onde mora com filhos e netos, a palha de ariri que usa para fazer vassouras. Conta com orgulho que essa é uma atividade que desenvolve há mais de 50 anos e descreve o processo exigido no trabalho. A agricultora e a família aguardam o início da implementação de uma cisterna de produção na propriedade e deseja aumentar a produção de alimentos.

 

  • A agricultora Sizinha Santos mostrou o mapa que fez da propriedade onde vive com o esposo e o filho. Esta é uma metodologia chamada de diagnóstico do agroecossistema que consiste em fazer um desenho da roça – indicando tipos de plantas cultivadas, animais que cria e tecnologias utilizadas. Também foram feitas setas que indicam os fluxos de entrada e saída dos alimentos e recursos hídricos produzidos pela família na roça. Foi a partir dessas informações que a família optou por fazer investimentos na produção de hortaliças, reduzindo a compra externa de alimentos e garantindo segurança e soberania alimentar.

 

  • Na comunidade Maninho, a família de Elisabete Xavier e Irineu Silva optou por fazer investimento na aquisição de um motor já que foi implementado um barreiro trincheira familiar na roça onde vivem. O barreiro com capacidade para armazenar 600 mil litros de água, tem cerca de 4m de profundidade e utilizando o motor, a família deseja facilitar a chegada da água até próximo do quintal, onde vão ampliar a produção de alimentos e utilizar a água também para a dessedentação animal.

 

  • Luzia Silva e o esposo José Lima costumam produzir melancia, pimentão, coentro, milho, tomate e outros alimentos. É com a água armazenada na cisterna enxurrada que já fazem planos para diversificar ainda mais a produção. Também têm criação de gado e aves.

 

  • Em uma caminhada pela roça, a agricultora Marinadi Barbosa mostrou a cisterna calçadão ao fundo da casa. Contou que já tem água na cisterna e que utiliza para molhar as plantas que cultiva. Fruteiras, hortaliças e plantas medicinais são algumas das variedades que tem na roça. Também cria aves e porcos.

 

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