Cadernetas Agroecológicas e protagonismo das mulheres rurais

Texto: Ediane Bispo – Comunicação Cofaspi | Fotos: Edinélia Amorim – Coopser/Pró-Semiárido

Na segunda-feira (15), as equipes técnicas da Cooperativa de Trabalho e Assistência a Agricultura Familiar Sustentével do Piemonte (Cofaspi) e Cooperativa de Consultoria, Pesquisa e Serviços de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável (Coopeser), que desenvolvem assistência técnica e extensão rural através do Projeto Pró-Semiárido/CAR/SDRBahia com famílias agricultoras da região semiárida da Bahia, reuniram-se para mais um Dia de Estudos. Dessa vez discutiram sobre Cadernetas Agroecológicas, um instrumento metodológico que irá subsidiar a compreensão sobre a participação da mulher agricultora na economia familiar. A atividade foi facilitada por Tamara Rangel, uma das coordenadoras do Pró-Semiárido, por meio da Coopeser, e por Leonardo Lino, diretor presidente da Cofaspi.

A formação foi realizada na sede da Cofaspi, em Jacobina/BA

A partir de metodologias participativas, foram discutidas diversas questões e conceitos que envolvem a utilização das Cadernetas, bem como a importância e os desafios dessa tarefa que requer compreender as relações de gênero e o processo pedagógico a ser desenvolvido com as famílias, de maneira que valorize a cultura e os modos de vida nas comunidades, que se organizam através de tarefas coletivas (mutirões) e solidárias para produzirem alimentos.

Também foram discutidas as concepções de preço e valor, contrapondo a visão da teoria da economia clássica capitalista de mercado, e adotando o conceito da economia feminista, que se pauta na sustentabilidade da vida e não apenas em relações monetárias. A economia feminista considera que os trabalhos doméstico e de reprodução sustentam uma economia, que geralmente não é remunerada pois funciona sob o modelo de submissão e exploração patriarcal.

Feminismos – A Caderneta Agroecológica é uma ferramenta que foi sistematizada pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata de Minas Gerais (CTA-ZM), reunido contribuições de diversos grupos de mulheres e agroecologia ligados a Articulação Nacional de Agroecologia – ANA.  A caderneta propõe o monitoramento da produção da agricultura familiar com o objetivo de visibilizar e valorizar a produção agroecológica das mulheres agricultoras. Diversas organizações de ATER já utilizaram a ferramenta nas regiões Nordeste, Sudeste, Amazônica e Sul, alcançando resultados que também contribuem para o acesso de políticas públicas e projetos voltados para mulheres rurais. Baseado nessas experiências, ela será utilizada na Bahia no âmbito dos Projetos Pró-Semiárido, ATER Mulheres e ATER Agroecologia, a partir de 2019.

Sistematização do dia de estudos

As Cadernetas serão apresentadas às famílias através dos técnicos e técnicas agrícolas que irão acompanhar e animar o processo político-pedagógico, mas seu preenchimento será realizado pelas agricultoras, que neste caso serão as protagonistas e pesquisadoras sobre suas próprias realidades. Nas Cadernetas Agroecológicas serão registrados consumo, troca, venda e doação do que é cultivado nas propriedades pelas agricultoras, bem como os demais trabalhos que desenvolvem e que geram renda direta para a família. Dessa forma, além possibilitar a sistematização e auxiliar na gestão da produção, a ferramenta permite dar visibilidade ao debate de gênero no meio rural ao afirmar o papel das mulheres na renda familiar e na construção da Agroecologia.

“É uma ferramenta feminista que reconhece o protagonismo das mulheres para a manutenção da unidade de produção familiar, que além de se preocuparem com a segurança alimentar e nutricional da família, ainda geram rendas monetária e não-monetária através do trabalho que desenvolvem. Trata-se de um trabalho que produz uma economia que não é contabilizada nem valorizada, sendo vista muitas vezes como uma ajuda que as mulheres dão aos maridos”, explica Tamara Rangel.

Após essa formação, a próxima tarefa da equipe técnica será mobilizar as mulheres agricultoras e realizar rodas de conversas para identificar aquelas que têm interesse em sistematizar sua produção e participar da metodologia. Serão formados grupos de mulheres das comunidades locais para participarem de capacitações, trocas e monitoramentos, nos quais elas serão as protagonistas. Em dezembro, algumas Cadernetas serão selecionadas para fazerem parte do banco de dados que reunirá os resultados do trabalho das mulheres em diversos municípios da Bahia.

As equipes irão mobilizar mulheres agricultoras para rodas de conversas nas comunidades

O Pró-Semiárido é um projeto do Governo do Estado da Bahia, implementado através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), órgão da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com recursos oriundos de Acordo de Empréstimo com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola. A Cofaspi e a Coopser são organizações de assistência técnica que acompanham o projeto no território do Piemonte da Diamantina e região.

 

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