Acolhimento, entusiasmo, fé e mobilização na passagem da Caravana Semiárido Contra a Fome em Feira de Santana/BA

Por Rede de Comunicadores da ASA-BA*

“Irá chegar um novo dia, um novo céu, uma nova terra, um novo mar. E nesse dia os oprimidos a uma só voz a liberdade irão cantar”. Nas vozes de luta, a recepção calorosa de militantes de movimentos sociais vindos de municípios da Bahia para celebrar a chegada da Caravana Semiárido Contra a Fome, em Feira de Santana (BA), na manhã de sábado (28). Depois de percorrer quase 600 km, a Caravana fez a primeira parada da rota que iniciou em Caetés (PE) com a missão de denunciar o desmonte das políticas públicas sociais fundamentais para a qualidade de vida e dignidade dos povos do Semiárido.

A Caravana Semiárido Contra a Fome está sendo organizada pela ASA Brasil, Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Frente Brasil Popular, Via Campesina e MST.

Após a recepção dos ônibus da caravana pelos anfitriões, o grupo com mais de 150 pessoas percorreu as ruas do centro de Feira de Santana. Carregando bandeiras e faixas, cantando e ecoando frases de luta, caravaneiros/as e militantes chamavam a atenção dos olhares curiosos de motoristas, vendedores/as e pessoas nas lojas e ruas do comércio. A agitação provocou uma pausa na rotina de quem estava no centro da cidade. Alguns/as se dedicavam a ler os panfletos e jornais que recebiam, outros ouviam os discursos dos/as militantes que no carro de som convocavam a população a se unir contra a volta da fome e pela retomada de direitos que foram conquistados pelas famílias.

“Eu estava andando pelo centro da cidade e, de repente, vi esse ato. Como eu sou povo, gosto de lutar mesmo pelos direitos sociais, me ingressei a essa caravana (…) A fome voltou para o nosso país e a população brasileira precisa acordar. Então, é o momento que aonde você estiver, presenciar, ver essa caravana passando, vá junto! Ande junto, porque essa luta não é só deles, essa luta é nossa contra a fome de nosso país”, ressaltou a agente comunitária Conceição Bacelar, que mora em Feira de Santana.

Outros moradores/es da cidade baiana também retribuíram a ação da Caravana. O comerciante Robson de Jesus sorriu e ergueu os braços em sinal de luta. Era fácil observar ainda pessoas nas calçadas acompanhando as músicas cantadas pelo grupo da delegação e militantes., ou pessoas retribuindo gritos de luta e conversando com os/as militantes.

“Na conjuntura política que estamos é necessário a gente se juntar e conversar com o povo. Então estou nessa caravana com esse objetivo. Quando eu entreguei os panfletos e quando a gente encontra de fato os trabalhadores, eles têm uma recepção muito boa, dialogam com a gente e dizem Lula livre”, explicou Fátima Borba, militante do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da Paraíba.

Ato Político – A tarde foi momento de fortes emoções. O Ato Político de Celebração de Reenvio da Caravana, com mística, canções, relatos e abraços apertados, motivou cerca de 300 pessoas a partilharem dos mesmos sentimentos de lutas, resistências e insistências por um Semiárido mais justo e digno de viver.

Foi nesse sentindo que Naidison Baptista, da coordenação da ASA-Bahia, expressou suas palavras aos Caravaneiros/as para que retornem para suas bases incumbidos/as da missão de denunciar e anunciar. “Sigam anunciando que nós temos direito à vida e denunciando que o governo, que devia cuidar de nós, está nos levando, nos conduzindo à morte. Denunciem isso e anunciem que nós queremos viver e que vamos viver (…) Nós juntos vamos virar a mesa e continuar a construir esse Semiárido como uma terra digna de seus filhos. Que a Caravana continue com a energia que ela recebeu aqui, continue sua estrada. E a gente, com a energia que recebemos da Caravana, continuemos a nossa missão de lutar e de construir a vida do povo”.

Embalado nessa energia e força para seguir com a missão da Caravana, Alexandre Henrique Pires, da coordenação da ASA Brasil pelo estado de Pernambuco, fez referência à luta histórica dos povos quilombolas, indígenas e dos povos de fundo de pasto pelo direito à terra, pela reforma agrária, segurança e soberania alimentar, democratização dos meios de comunicação e luta das mulheres. “Nós estamos escrevendo um pedaço da história do Semiárido. E é esse sentido de se movimentar, de estar em luta, que a gente vai encontrando a esperança, a força para a gente continuar firme”, ressaltou Alexandre.

A coordenadora do Movimento de Organização Comunitária (MOC) e também representante das organizações baianas presentes neste Ato de Reenvio, Célia Firmo, fez votos de força para que a caravana prosseguisse a caminhada. “Estamos voltando a ver pessoas passando fome e não é isso que nós queremos. Nosso dever de cidadão é esse de denunciar e querer que todo mundo viva e viva bem, em abundância. A caravana tem esse papel de contribuir para que cada vez mais a luz se acenda e cada vez mais as pessoas enxerguem o que está acontecendo”.

Com as benções e as palavras provindas do Padre Chico (Diocese de Irecê), Pastor Joel Zeferino (Igreja Batista de Nazaré) e Mãe Makota Sanguleiza (Terreiro Tumbajuss), de almas e corpos alimentados com doações vindas de agricultores/as das regiões da Bahia, os/as Caravaneiros/as seguiram com destino a sua próxima parada, em Belo Horizonte (MG). Levaram consigo a força das terras baianas para somar a muitas outras que se juntaram à Caravana, embalados na ideia que essa luta é de todos/as nós e que “É no Semiárido que a vida Pulsa. É no Semiárido que o Povo Resiste”.

Site da campanha de financiamento coletivo para a Caravana Semiárido contra a Fome

Mobilizações – A Caravana é fruto de um forte processo de mobilização, tanto a nível nacional, estadual como nos territórios, através dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Na Bahia, os povos do Semiárido se sensibilizaram enviando alimentos, recursos financeiros e representantes para se juntarem ao ato em Feira de Santana.

Nos territórios do Portal do Sertão, Sisal e Bacia do Jacuípe foram mobilizadas diversas entidades parceiras, assim como agricultores/as e grupos de produções, que contribuíram com uma diversidade de alimentos da agricultura familiar e com recursos financeiros, tanto para acolher a Caravana na passagem por Feira de Santana como a continuidade da sua trajetória.

“A gente articulou, principalmente por se tratar da semana do agricultor (25 julho), em que a gente estava celebrando as colheitas e as chuvas que caíram. Todos os ofertórios que foram feitos durante a festa e durante a Missa do Agricultor/a foram em prol da Caravana. É mais uma forma de garantir que esse pessoal vá se alimentando de forma orgânica, da agricultura familiar, com essas mãos calejadas que alimentam essa nação”, contou dona Conceição Borges, agricultora familiar, que faz parte do Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Feira de Santana e vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-BA).

A campanha de financiamento coletivo realizada pela internet tem mobilizado centenas de pessoas em todo o Brasi. Através da plataforma Benfeitoria, é possível fazer doação de valores a partir de R$ 25. Para contribuir, acesse: https://benfeitoria.com/caravanasemiaridocontrafome.

* Luna Layse (COFASPI), Gisele Ramos (IRPA), Robervânia Cunha (MOC), Adão (Entidade), Bruno (ASAMIL) e Morgana Damásio (Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa)

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