Por Luna Layse Almeida e Alan Suzart
Falar dos 20 anos da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) é dizer sobre os sentimentos que unem um coletivo de luta e resistência, por direitos dos povos do Semiárido no campo e na cidade, formado pelas famílias agricultoras, de comunidades tradicionais, e organizações militantes dos movimentos sociais. Em uma trajetória marcada pelas mudanças nas realidades do Semiárido, a rede ASA foi celebrada na tarde de segunda (25) em uma sessão especial na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em Salvador/BA, proposta pelas deputadas Neusa Cadore e Fátima Nunes. Com plenário lotado, a cerimônia reuniu integrantes de organizações que formam essa rede de enfrentamentos em defesa da vida e contou ainda com a presença de lideranças políticas.
“Posso dizer da vida de mulher no Semiárido antes e depois da ASA. Antes [uma realidade] de fome, de sede, de léguas, de lata d’água, de trouxas de roupa pra lavar, de enfrentamento aos fazendeiros pra ter acesso à água compartilhada com animais (…). E nesses 20 de anos de ASA o tempo de mulher foi ocupado na organização da luta. É por isso que lugar de mulher é na política, faculdade, universidade, nas diversas trincheiras”, destacou Marenise Oliveira, representando as agricultoras e agricultores familiares. Além das falas políticas, a sessão foi marcada ainda pelos gritos de lutas, cantorias e místicas que expressam a força, coragem e alegria de ser ASA, fortalecendo a construção de políticas públicas que garantam vida digna: “é no Semiárido que a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste”.
É neste sentimento de resistir e esperançar que a luta permanente é construída e o desejo é de que cada vez mais haja novas conquistas, superando desafios e os recentes retrocessos do Governo Federal nas políticas voltadas para a agricultura familiar, meio ambiente e direitos das classes trabalhadoras. “Estamos aqui nesse dia tão especial, para dizer que vamos continuar a resistir, que nós vamos continuar construindo e que nós vamos vencer”, destacou Naidison Baptista, da coordenação da ASA Bahia. Nesta luta, o protagonismo das famílias do Semiárido ganha visibilidade, fazendo ver que é possível construir a agroecologia, economia solidária e outras formas de resistência. “São vocês agricultoras e agricultores os sujeitos que fazem acontecer a convivência com o Semiárido, são vocês que fazem na propriedade de vocês a convivência (…) Sem vocês nada do que se fala e do que se canta da ASA teria lugar”, esclareceu Naidison Baptista.
Dentre as conquistas, em 20 anos de rede, foram cerca de 1 milhão e duzentas e cinquenta mil cisternas implementadas no Semiárido, com água potável de qualidade e próximo das casas das famílias que antes percorriam léguas com a lata d’água na cabeça. “Demonstramos nessa caminhada [de 20 anos da ASA] que é possível transformar, aproveitar os recursos naturais de forma sustentável e conseguir fazer com que as pessoas não saiam das suas localidades, seja no interior ou nas cidades, mas possa viver e viver com dignidade. Agora isso é luta, resistência e é também política de governo que foi conquistada com o empenho de todos nós (…) e mesmo hoje atravessando essas dificuldades de retrocessos no país, reafirmamos com força e com fé, nós vamos resistir, vencer e alterar essa realidade do nosso Brasil’’, frisou a deputada Fátima Nunes.
A trajetória da rede ASA persiste, afirmando que ainda há muito o que ser alcançado. “O projeto da ASA é bem maior, é reafirmar todos os dias e construir nessa grande rede com a participação de tantas entidades, que dialogam diretamente com as comunidades, e com as/os trabalhadoras/es.(…) Vida longa à ASA e que a gente também tenha no seu exemplo uma referência muito forte para esse momento de enfrentamento”, declarou a deputada Neusa Cadore. Ao final, a sessão especial na ALBA foi celebrada com uma homenagem à coordenação da ASA e momento da entrega, em nome dos deputados e deputadas da ALBA, de uma placa comemorativa dos 20 anos da ASA à Naidison Baptista.