A educação contextualizada no âmbito do semiárido sempre foi um desafio de todos/as que ousaram acreditar na convivência com o semiárido como algo possível. Neste sentido, para além de disseminar técnicas e tecnologias sociais de captação de água da chuva para consumo humano e para produção de alimentos, a educação contextualizada, é também, espaço de se discutir e fortalecer o protagonismo dos povos das comunidades em torno da desconstrução de paradigmas em torno da região e construção de um semiárido melhor, mais justo e igualitário, pautado na produção agroecológica e no armazenamento de água, de alimentos, de sementes etc, como metodologia de convivência, na perspectiva da redução da miséria com aumento da produção de alimentos saudáveis, aumento da renda familiar e conseqüentemente redução do êxodo rural.
No Mais, a educação contextualizada preza pela valorização do saber empírico dos envolvidos diretos e o fortalecimento das cadeias produtivas, possibilitando maior integração entre os moradores, potencializando as diversas formas de organizações existentes nas comunidades e que possibilitam empoderamento das famílias e das instituições locais, sobretudo no reconhecimento da identidade e do modelo de organização e produção historicamente exercido pelos/as agricultores/as, além de “religar” o ser humano à natureza de forma que este possa colaborar para a sustentabilidade e preservação dos recursos naturais, possibilitando adoção de métodos produtivos capazes de contribuir para isso, o que não implica, entretanto, na impossibilidade de geração e aumento da renda familiar através da agricultura exercida.
Repensar o semiárido implica também em repensar as práticas. Neste sentido, há 11 anos a COFASPI tem adotado a educação contextualizada como principal ferramenta norteadora de suas ações. Educação esta, que se faz para além das formais salas de aulas, mas que também se tornam possíveis através de intercâmbios, oficinas, encontros de agricultores, reuniões, cursos, trocas de produtos, sabores, saberes etc. Esta mesma metodologia tem sido utilizada, já há um bom tempo, por instituições sociais com atuação na área e de referência internacional a exemplo da ASA e que são responsáveis por mudança do paradigma quanto às questão do Semiárido, tido por muito tempo como um lugar seco, pobre, atrasado e sem vida.
Vale, salientar que a adoção de metodologia e material didático que atenda esta demanda, tem fundamental importância na formação de cidadãos/as capazes de compreender a realidade do campo numa lógica libertadora, tendo como referência obra de alguns escritores que fazem uma abordagem do campo, não apenas como um aspecto físico-produtivo, mas, como uma área de atuação política, cultural, econômica e social, colocando o mesmo em evidência, sem perder de vista a abordagem territorial. Neste sentido, o Pro
jeto “Ponto de Leitura: Revelando saberes do campo”, projeto da COFASPI em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT) tem disponibilizado às comunidades do território, mas, principalmente às pessoas do campo, um acervo de livros, cartilhas e revistas voltadas especificamente para a agricultura familiar com olhar territorial, pautando transversalmente a questão do desenvolvimento sustentável com os seguintes temas: Cooperativismo e associativismo solidário, Economia Solidária, Agricultura Familiar, Segurança Alimentar e Nutricional, Meio Ambiente, Desenvolvimento Territorial, Agroecologia, Tecnologias Sociais Alternativas, entre outros.
Por fim, este trabalho é realizado pela Equipe da COFASPI (técnicos/as, diretores, parceiros/as e funcionários/as de modo em geral) com apoio de alguns projetos com os quais a entidade se articula e eventualmente recebe apoio (financeiro ou não) de entidades que comungam das mesmas ideologias. De modo geral, este trabalho é feito voluntariamente de forma assistemática e busca, sobretudo, fortalecer a mística e a identidade do povo, prezando sempre pela sua autonomia e gestão também na forma de pensar a educação contextualizada valorizando o saber local.