Por Érica Daiane – comunicadora popular do Irpaa
Às margens do Rio São Francisco, mais de 200 caravanas dos estados do Semiárido brasileiro se reuniram na tarde deste sábado (20) em Petrolina (PE) e se deslocaram para Juazeiro (BA). A efervescência política nesse período de 2º turno de disputa eleitoral no país motivou a realização de um Ato Político e Cultural com o tema “Semiárido pela Democracia”.
Proposto por diversos Movimentos Populares de todo o Semiárido, o evento foi um momento místico, onde bandeiras, camisas, adesivos, poesias e músicas deram o tom do movimento que teve o objetivo de dizer ao Brasil e ao mundo que os povos do Semiárido defendem a garantia da liberdade, da cidadania e do conjunto de direitos assegurados pela Democracia brasileira.
“Nós estamos aqui hoje para dizer que somos um povo inteligente, que o Semiárido tem lutadores e lutadoras”, enfatizou Naidison Quintella, coordenador da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) pelo Estado da Bahia, ao animar a multidão para dar início à caminhada. “Nós queremos dizer ao Brasil que nós queremos um Brasil com terra para todo mundo, com água para todo mundo, com escolas (…). Não queremos e não vamos votar em quem defende a tortura, a violência”, externou Naidison.
O Ato demonstrou a força dos Movimentos Populares que ao longo da história do Brasil vem lutando pela garantia de direitos básicos como acesso à terra, água, moradia, alimento, educação, comunicação, por exemplo. Além disso, foi reforçada também a luta contra o autoritarismo e posturas facistas representadas pelo candidato a presidente da extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL). “Um facismo às vezes declarado, às vezes não, mas agora bem claro. E eu acho isso absurdo, parece que a história não nos ensinou nada, nem aqui nem na Itália“, alertou o italiano Nicola Andrian que sobre a Ponte Presidente Dutra cantou O Bella Ciao, considerada como canção da resistência italiana contra o facismo.
A representante da Via Campesina, Rafaela Alves, chamou atenção para a diversidade do Brasil, onde jovens, mulheres, sem terra, LGBT, negros, indígenas, entre outras identidades constituem “o povo que constrói a riqueza desse país”. Rafaela foi uma dentre as/os demais militantes que se posicionaram contra o candidato Jair Bolsonaro, acusado de racista e homofóbico, e incentivador de outras formas de discriminação. “Como vamos construir um país sem essa diversidade ser respeitada?”, questionou. Rafaela ainda afirmou: “A gente não quer mais ver a fome, a miséria, a ditadura militar”.
Firme até o final do Ato, por volta das 20h, o agricultor José da Silva Campos, do interior de Uauá (BA), disse que foi importante participar do ato e votar para garantir “que o país mude com dignidade” , destacando que se Fernando Haddad não for eleito haverá muito “sofrimento pra toda população e nós não deseja isso nós deseja o que é bom”, opinou. Com a mesma preocupação, a psicóloga Maria José Aroucha, lembrou que os diversos segmentos no Brasil conquistaram direitos ao longo desses anos de Democracia, a exemplo dos trabalhadores/as, das mulheres, nordestinos/as, que “não tinham voz, que não tinham expressão (…) e hoje essas pessoas são vistas como gente. Então não podemos perder esse momento da Democracia”, defendeu.
Ao final do Ato Político e Cultural, o Coordenador Executivo da ASA, Alexandre Pires, leu a carta do candidato Fernando Haddad (PT) enviada em resposta à Carta aos candidatos e às candidatas ao Pleito Eleitoral de 2018enviada pela ASA , no qual defende a Convivência com o Semiárido. Dentre os compromissos firmados pelo presidenciável com o conjunto de instituições que compõem a ASA, um deles foi a ampliação do Programa Um Milhão de Cisternas.
Em todo o Brasil, milhares de pessoas também foram às ruas para defender a candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, considerando, sobretudo, a possibilidade de eleger um governo que aceite ser questionado em outros atos como esses, ao invés de eleger um governo que pode dar origem a uma nova ditadura no país.